segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Encontro Cultural em Brasileia na Sexta-Feira, 30 de Dezembro


Na próxima sexta-feira, dia 30 de dezembro de 2011, o grupo de haitianos abrigados em Brasileia realizará um Encontro Cultural com o objetivo de, através da arte e da gastronomia, homenagear e agradecer ao povo e ao governo brasileiro pela recepção e acolhimento que vêm recebendo. 

É também uma oportunidade de reconhecer e divulgar os valores culturais trazidos pelo grupo, escapando do discurso constante sobre o que eles não têm, ou sobre as condições miseráveis, e nos relacionando com o que eles têm de sobra, e que pode ser encarado como um verdadeiro tesouro que trazem ao nosso país: sua cultura e sua criatividade. 

Atividades como essa podem nos tirar da armadilha de nos referirmos a um grupo, uma denominação sem rosto ('os haitianos'), e podermos ver o ser humano por trás da estatística ou do rótulo, com sua criatividade, sua vontade de viver melhor e de ser feliz - como qualquer um de nós. É impossível gostar do que não se conhece. O que não conhecemos nos dá medo e desconfiança. Conhecer o outro permite a valorização do que temos em comum, e não da diferença. Essa identificação é o caminho para a solidariedade, enquanto o medo leva ao racismo e à violência.

Estamos combinando de reunir um grupo em Rio Branco e partir em caravana até Brasileia para participar do Encontro. É muito importante o nosso apoio desde já, pois o grupo de haitianos não possui bens materiais. Cada pequena atividade é um verdadeiro desafio. A intenção é realizar um evento estruturado e uma degustação de comidas típicas, mas ainda estamos tentando conseguir uma sonorização apropriada, e equipamentos e utensílios para cozinhar e vender os pratos típicos.

Aceitamos doações e precisamos, muito, de voluntários para trabalhar no evento. Algumas pessoas chegarão em Brasileia dias antes do evento para auxiliar nos ensaios e na captação de recursos junto à comunidade local. 

Encontro Cultural Haiti / Brasil
Dia 30/12 às 17:30
Praça de Brasileia
Programação (até o momento):
                                          exposição de desenhos
                                          música e dança haitiana
                                          degustação de pratos típicos haitianos
                                          apresentação de artistas acreanos
                                          palestras breves sobre História do Haiti

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011



Em Brasiléia (AC), parte de 724 refugiados haitianos assistem apresentação de capoeiristas. A situação na fronteira Brasil com a Bolívia vem se transformando em crise humanitária. Por Altino Machado.

MPF recomenda que União assuma apoio a haitianos refugiados no Acre

Haitianos no Acre

quarta-feira, 1 de junho de 2011

MPF/AC: Ministério da Justiça viola tratados internacionais barrando e dificultando permanência de haitianos solicitantes de refúgio

Recomendações visam regularizar o atendimento dispensado pela Polícia Federal e pelo Conare
MPF/AC: Ministério da Justiça viola tratados internacionais barrando e dificultando permanência de haitianos solicitantes de refúgio
O Ministério Público Federal no Acre (MPF/AC enviou recomendação ao Ministério da Justiça para que se alterem os procedimentos da Polícia Federal e do Comitê Nacional de Refugiados (Conare) quanto à entrada de cidadãos haitianos no Brasil, bem como quanto à concessão de autorização para sua permanência. A medida foi tomada a partir das informações colhidas durante a audiência pública ocorrida no início deste mês quando foram debatidos os aspectos jurídicos e humanitários dispensados aos haitianos que tem entrado no território brasileiro após o terremoto que atingiu o Haiti em 2010.

Com relação à Polícia Federal, a recomendação foi enviada via Ministério da Justiça para que sejam observados a convenção e o protocolo relativos ao Estatuto dos Refugiados, harmonizando a aplicação das exigências de entrada no Brasil referente ao porte de visto com o instituto excepcional do direito de refúgio. O que ocorre atualmente, segundo declarado pelos representantes da própria Polícia Federal, é a proibição de entrada dos haitianos, quando o correto para o caso seria o registro, na fronteira, do pedido de entrada, sendo concedido o protocolo que permitiria aos haitianos o trânsito no território brasileiro, bem como a possibilidade de conseguirem trabalho e consequentemente sustentarem a si e seus familiares com dignidade.

A atitude da Polícia Federal ao barrar os haitianos, segundo o apurado, tem estimulado a ilegalidade, fazendo com que estas pessoas procurem grupos que os tragam para dentro do território brasileiro por estradas ilegais, muitas vezes usando rotas do tráfico, cruzando regiões de mata fechada a pé, correndo riscos e tendo que pagar pela ação dos conhecidos coiotes.

À União Federal, que controla o Comitê Nacional para Refugiados, foi recomendado que sejam adotadas as medidas necessárias para assegurar o célere registro e apreciação do pedido de refúgio formulados pelos cidadão haitianos no Brasil, devendo ser colocada em discussão a possibilidade do enquadramento dessas pessoas na condição de refugiados, tendo em vista serem pessoas que saíram do Haiti mediante grave violação dos direitos humanos já que tiveram seus direitos fundamentais atingidos pelo terremoto e pelas consequências sociais que decorreram da tragédia, como a fome, o desemprego e as condições insalubres do ambiente.

Segundo o informado pela representante do Conare na audiência pública os pedidos de refúgio atualmente são negados pelo órgão e encaminhados ao Conselho Nacional de Imigrantes para que lhes seja concedido o visto de imigrante. A demora na finalização desse processo também se constitui em violação a tratados humanitários internacionais e à lei 9.474/97.

O procurador regional dos direitos do cidadão, Ricardo Gralha Massia, autor das duas recomendações, afirma que o quadro institucional hoje apresentado estimula a atitude dos haitianos de entrarem irregularmente no Brasil, acarretando a maior dificuldade dos haitianos que é a de obter meios de sustento independente de doações ou auxílios de grupos humanitários. Ainda segundo o procurador, o ideal seria que o Itamaraty passasse a oferecer condições para que o visto de entrada fosse concedido ainda no Haiti, mediante pedido e avaliação da embaixada brasileira naquele país.


Fonte: MPF/AC

Aulas de Português aos haitianos

Vídeo: Professora Maria da Luz

No dia 26 de maio de 2011, ocorreu o encerramento do curso de língua portuguesa direcionado aos haitianos que atualmente residem em Rio Branco.
A iniciativa foi da Universidade Federal do Acre, através de um Projeto de Extensão vinculado ao Programa de Mestrado em Letras da Ufac.
As professoras do curso, Maria da Luz e Francisca Karoline, trabalharam com o grupo de haitianos durante 60 horas, dividas em dois encontros semanais de duas horas cada. Segundo as professoras, o espaço para as aulas, o Colégio de Aplicação da Ufac, "tornou-se um palco para a aprendizagem não somente de novas línguas, mas também de trocas de saberes e de amizade".

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Refugiados de terremoto do Haiti desafiam o mar e a incerteza em busca de uma nova vida na Amazônia


Each night they gather on Brazil Avenue under the amber glow of street lamps. Perched on the wall of a convenience store they talk politics, crack jokes, and sing along to mobile phone music from home. As darkness envelops Iñapari, a riverside border town in the Peruvian Amazon, the sound of French Creole and Haitian Compas songs fills the air.
"We have come here in search of a better life," said Baptiste Suppler, a 29-year-old from Haiti's fourth-largest city, Gonaïves.
Suppler is one in a wave of Haitian migrants determined to build a new life in the Brazilian Amazon.
He pointed across the river Acre, separating Peru's Iñapari from the Brazilian border town of Assis Brasil, representing the last hurdle towards a fresh start in South America's largest and wealthiest nation. "Our objective is to reach Brazil," he added.
According to the Brazilian authorities at least 1,500 Haitians have entered the Amazon region since a 7.0 magnitude earthquake devastated their country on 12 January 2010, killing about 200,000.
After a gruelling, month-long journey via the Dominican Republic, Panama, Ecuador, Bolivia, Peru and sometimes Colombia, Haitian migrants arrive at remote border towns like Iñapari and wait for the chance to cross into the Brazilian Amazon. Once there many try to find construction jobs on Amazonian infrastructure projects, such as the Santo Antonio and Jirau hydroelectric dams. "I chose Brazil, and many Haitians choose Brazil, because in 2014 there will be a World Cup," said Esdras Hector, who left Haiti on 11 March and made it to the Brazilian Amazon on 15 April after a four-week pilgrimage by plane, bus and on foot. "A lot of Haitians know Brazil will need a lot of workers to work during this time."
Brazilian authorities have been caught off guard by the sudden influx of Haitians. Unsure how to classify the migrants, federal police officials received orders to refuse entry to new arrivals while a solution was sought, they said. For now, the Brazilian border was closed, theoretically at least.
But for the Haitians stranded in Iñapari, many heavily in debt, turning back is not an option. Some bide their time, hoping the border will reopen in a few months; others have already begun hiring coyotes (people smugglers) to guide them on a perilous illegal trek through the jungle into Brazil.
"They won't give up … they are just one step away from realising their dreams," said Maria Cardozo Mouzully, 49, who owns Hospedaje Iñapari, a riverside guesthouse on the Peruvian side of the border that now houses many Haitians. In the absence of support from the local government, Mouzully ceded many of her hotel rooms and her kitchen to Haitian migrants left in limbo by the decision to seal the border. "What are we supposed to do? Kill them? Watch them starve to death outside our front door?"
Go about 71 miles east from Iñapari and you reach Epitaciolândia, a small Brazilian town currently home to about 160 Haitian migrants who reached Brazil before the border closed. Among the mostly male group are university graduates, bricklayers, electricians and preachers, all sleeping on the floor of a gymnasium while waiting for papers letting them stay legally and work. To fill the time they play cards, read the Bible and do odd jobs for ranchers.
"[The] disaster destroyed my country," said Esdras Hector, 27, who hoped to learn Portuguese to land a job with the UN. "I know if I use my brain in Brazil I will realise my dream to help my family."
But for many, attempting to build a new life in Brazil has come at great personal cost.
Silvaine Doris, a 46-year-old shampoo seller, who lost her brother and sister in the earthquake, left her daughter aged seven and 11-year-old son behind in Port-au-Prince in the care of a niece.
"As soon as I bought my ticket … I started to cry," she said.
These days her home is the Pousada Sao Jose, a guesthouse in Brasiléia, an Amazonian town near Brazil's border with Bolivia and Peru. "I've come here because of the economic problem. We don't have anything – no jobs. All we could do was come here in search of a better future."
Haitians represent the largest portion of this new wave of Amazon migrants, but over five days in the region, four men from Bangladesh, one from Liberia and one from Nigeria talked to the Guardian. Pakistani and Tanzanian migrants are also said to have arrived.
Peter John Prince, 27, from Liberia, said he was living in Ivory Coast until some months ago when his brother, owner of a sportswear shop, was killed by rebels. "I am a refugee … I had to get away because I don't want to die."
Beside him stood Frank Jideofor, 23, from Nigeria's oil-rich Bayelsa state. His left arm was amputated after he was shot by the same men who murdered his father, a government official. Why had he come to Brazil? "For the life-safe. They burnt our house, they shot me … because my father didn't support them."
Back on Brazil Avenue, Suppler and his fellow Haitian travellers were mulling over the options. "Our situation is difficult. For now, the border is closed." What would he do? "I will wait." How long for? He crossed his fingers and looked towards the sky. "Persévérance."

Chasing the dream

Throughout much of the 19th and 20th centuries migrant workers flocked to South America chasing the "Brazilian dream".
Foreign workers were widely seen as a key ingredient for economic growth, particularly after Brazil abolished slavery in 1888.
Germans were among the first to arrive, colonising large areas of southern Brazil from the 1820s onwards. In some corners of Brazil's deep south, German is still spoken as a first language.
Between the mid-1870s and 1920 as many as 1.5 million Italian immigrants touched down in south and south-east Brazil. Today there are about 25 million Brazilians of Italian descent.
Between 1908 and the 1960s up to 250,000 Japanese immigrants arrived, many fleeing rural poverty.
The majority set sail for Sao Paulo and went to work in the region's coffee plantations; others headed for the Amazon.
Today Brazil is said to house the largest Japanese population outside Japan. Last year's census counted at least 2 million Brazilians of Asian descent.



quarta-feira, 25 de maio de 2011

Haitianos terão visto permanente por até nove anos


audpuhaiti04052011A decisão foi anunciada pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Acre, deputado Walter Prado (PDT), durante o primeiro dia da audiência pública para discutir a situação jurídica dos haitianos que estão refugiados no em território brasileiro.

O evento começou na manhã desta quarta, 4 e irá durar até amanhã no auditório da Justiça Federal no Acre e tem a participação de representantes de diversas instituições do Estado, do Ministério da Justiça e Ministério das Relações Exteriores.
Prado antecipou a novidade e disse estar feliz por ver que o Itamaraty está empenhado em dar um desfecho e garantir oportunidades para os imigrantes. “Estamos recebendo essa notícia com muita felicidade, porque quem sofre o que sofreram os haitianos e ainda tem forças para reconstruir a vida e ajudar no desenvolvimento de nosso Estado vai ser sempre bem-vindo. É o sentimento que eu tenho como cristão”.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Quando o clima se torna uma forma de perseguição


Segundo levantamento da ONU, 50 milhões de pessoas deixaram seus lares por problemas decorrentes das mudanças climáticas ou de desastres naturais

Branca Nunes
Quase um milhão de pessoas ficaram desabrigadas depois da passagem do ciclone Nargis por Mianmar, em maio de 2008
Quase um milhão de pessoas ficaram desabrigadas depois da passagem do ciclone Nargis por Mianmar, em maio de 2008(Paula Bronstein)
Kiribati, Tuvalu e as Ilhas Maldivas simplesmente desaparecerão, caso se concretizem as previsões de elevação do nível dos oceanos
No mês passado, 199 haitianos que chegaram ao Brasil em busca de refúgio nos meses seguintes ao terremoto que devastou o Haiti em janeiro de 2010 receberam uma boa notícia: não serão obrigados a sair do país. A incerteza durou quase um ano. Outros 800 aguardam a resposta do Ministério da Justiça.
Esse pequeno contingente faz parte da imensidão de 50 milhões de pessoas que, segundo um levantamento de 2009 da Organização das Nações Unidas (ONU), tiveram de deixar seus lares por problemas decorrentes de desastres naturais. Estimativas da própria ONU indicam que, em 2050, o número de seres humanos nessas condições estará entre 250 milhões e 1 bilhão.
Migrantes ambientais, deslocados ambientais, ecorefugiados e refugiados climáticos são algumas das expressões usadas para classificá-los. Aos poucos, refugiados ambientais parece consolidar-se como a mais usada. É algo mais que uma questão semântica. Da definição de um status, decorrerão os direitos que essas pessoas possam ter.
Kiribati e Tuvalu
Enquanto alguns especialistas propõem que o termo seja aplicado a todos que perderam seus lares devido a alterações do meio ambiente, outros preferem fazer a distinção entre quem se desloca dentro do próprio país e quem é obrigado a cruzar fronteiras internacionais. Também existem os habitantes de países que simplesmente desaparecerão, caso se concretizem as previsões de elevação do nível dos oceanos.
É essa a situação das ilhas de Kiribati e Tuvalu, no Pacífico Sul, e das Maldivas, no oceano Índico (ver infográfico). Em 2007, um relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão vinculado à ONU, constatou que, se nada for feito, a temperatura do planeta poderá subir entre 1,8 e 4,0 ºC, o que implicaria um aumento de 59 centímetros no nível do mar ainda neste século. Os governantes desses países já estudam o que fazer com os 415 mil moradores.
A procuradora federal do IBAMA Érika Pires Ramos, que concluirá neste ano a tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP) cujo título é Os refugiados ambientais: em busca do reconhecimento pelo direito internacional, afirma que o termo refugiados ambientais deve abranger tanto os moradores de Kiribati e Tuvalu, quanto os imigrantes haitianos que desembarcaram no Brasil. Ela também inclui nesse grupo os desabrigados e desalojados pelo terremoto no Japão e até os retirantes do nordeste brasileiro. “Se não existisse o problema climático ou o desastre ambiental, essas pessoas dificilmente deixariam suas casas”, argumenta. “Além da carga simbólica da palavra, classificá-los como ‘refugiados’ garantiria uma série de direitos”.
Luiz Fernando Godinho, porta-voz do Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), prefere as expressões “migrante” ou “deslocado ambiental”. Para Godinho, o uso da palavra “refugiado” poderia distorcer a definição clássica do termo, institucionalizado pela ONU em 1951 e adotado por dezenas de países. No Brasil, a lei 9.474 de 1997 define como refugiado todo indivíduo que “devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país”. Como explica Godinho, é necessário que haja um “agente perseguidor”.
“O tecnicismo é importante”, pondera. “O refugiado tem direito a acessar determinados territórios, não ser devolvido ao seu país e se beneficiar de uma série de políticas públicas”. Godinho ressalva que, ao defender essa distinção, o Acnur “não nega que as pessoas obrigadas a deixar seus países por problemas ambientais precisem de assistência”.
Por causa desse limbo jurídico em que se encontram tais imigrantes, os haitianos que buscaram refúgio no Brasil demoraram o dobro dos costumeiros seis meses para receber uma resposta do governo federal. Por não se enquadrarem na definição clássica, o Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) encaminhou os pedidos ao Conselho Nacional de Imigração (CNI) do Ministério do Trabalho e Emprego, que lhes concedeu uma “autorização de residência humanitária”.
Érika defende a criação de uma lei específica que torne obrigatória a assistência em nível internacional. Hoje, as vítimas de desastres naturais ficam à mercê da boa vontade de outros países, que invariavelmente diminui nos meses que se seguem à tragédia – enquanto os problemas continuam, ou se agravam. Um exemplo é a epidemia de cólera que matou mais de mil haitianos e deixou 20 mil hospitalizados um ano depois do terremoto de 2010.
O advogado Manuel Nabais da Furriela, coordenador da faculdade de Relações Internacionais da FMU e do projeto de intercâmbio universitário com o Acnur, concorda com Érika sobre a necessidade de uma legislação específica para esse tipo de imigrante. Ele chama a atenção para o número de “refugiados ambientais”, que supera em 4 milhões de pessoas o total de refugiados políticos. “Esse é outro motivo pelo qual tantos países evitam encarar o problema”, acredita o advogado. “A quantidade de gente nessa situação é crescente e o fluxo tende a aumentar. Ninguém quer se comprometer a garantir o auxílio”.
O refugiado ambientalO tema dos refugiados ambientais começou a ser discutido mais intensivamente em 1985, quando o termo foi proposto pelo professor Essam El-Hinnawi, que na época trabalhava para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). “Os refugiados ambientais”, disse El-Hinnawi, “são aquelas pessoas forçadas a deixar seu habitat natural, temporária ou permanentemente, por causa de uma marcante perturbação ambiental (natural e/ou desencadeada pela ação humana) que colocou em risco sua existência e/ou seriamente afetou sua qualidade de vida. Por ‘perturbação ambiental’, nessa definição, entendemos quaisquer mudanças físicas, químicas, e/ou biológicas no ecossistema (ou na base de recursos), que o tornem, temporária ou permanentemente, impróprio para sustentar a vida humana".
Duas décadas depois do nascimento do termo, os sudaneses são os únicos refugiados ambientais reconhecidos unanimemente pelos especialistas no assunto. Isso porque, embora a justificativa para a concessão do refúgio seja a guerra civil que durou 22 anos (1983-2005), a degradação do meio ambiente é aceita como a origem dos conflitos: com o crescimento populacional, o aumento da desertificação na região norte do país e a consequente escassez de recursos naturais, os moradores da região, de maioria árabe e muçulmana, foram obrigados a migrar em direção ao sul, onde os negros cristãos eram dominantes. A guerra forçou o deslocamento de 2,7 milhões de habitantes e causou 300 mil mortes.
Para Ubaldo Steri, diretor por 23 anos da Fundação Cáritas em São Paulo – instituição responsável por auxiliar os refugiados que chegam à cidade – a solução para o problema dos refugiados ambientais exige uma mobilização internacional da imprensa, das universidades, das empresas multinacionais e da opinião pública, junto com os governantes. “Precisamos de gestos concretos”, afirma Steri. “A situação dos refugiados ambientais é bastante discutida e lamentada, mas nenhum país toma atitudes concretas que possam trazer uma solução efetiva”.
“O Acnur e a ONU ainda não se dispuseram a oferecer proteção internacional a uma grande parcela da população ameaçada de morte”, acusa Steri. “Não uma morte violenta, mas uma morte certa causada pela fome, pela falta de água, pelas doenças e outras consequências das alterações climáticas e dos desastres ambientais”. Ele assinala que o refúgio já existe para pessoas que sofrem algum tipo de perseguição política ou religiosa, antes de jogar uma pergunta no ar: “Não seria a miséria extrema uma forma de perseguição ainda mais sutil e mais terrível?”
Fonte: Veja

Audiência pública discutirá situação jurídica de haitianos em solo brasileiro


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Autoridades nacionais foram convidadas para esclarecer o que cada órgão responsável está fazendo para resolver a questão.
O Ministério Público Federal no Acre promoverá nos dias 4 e 5 de maio uma rodada de debates em forma de audiência pública para discutir o encaminhamento jurídico e humanitário a ser dado às centenas de haitianos que entraram e continuam entrando em território brasileiro afugentados pelas precárias condições de vida em seu país de origem após o conjunto de desastres naturais ocorridos em janeiro de 2010.
O procurador regional dos direitos do cidadão, Ricardo Gralha Massia, afirma que o objetivo da audiência pública é fazer com que os diversos órgãos convidados assumam suas respectivas responsabilidades com o atendimento humanitário e jurídico a ser dispensado a esses cidadãos, tendo em vista os tratados dos quais o Brasil é signatário e a política de relações exteriores adotada pelo governo brasileiro.
Além dos procuradores regionais dos direitos do cidadão no Acre, Rondônia, Amazonas e da procuradora federal dos direitos do cidadão, Gilda Pereira de Carvalho, foram convidados para a reunião representantes do Ministério Público do Trabalho, Ministério da Justiça, Polícia Federal, Exército, Itamaraty, Conselho Nacional de Refugiados (Conare), Conselho Nacional de Imigrantes (CNIg), o Alto Comissariado da ONU para refugiados (ACNUR), Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos do Acre (SEJUDH/AC), Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), Comitê de Solidariedade aos Haitianos e a organização Cáritas Brasileira.

Mil refugiados haitianos devem trabalhar na Zona Franca de Manaus

KÁTIA BRASIL
DE MANAUS
FÁBIO FREITAS
DE SÃO PAULO


Órgãos dos governos federal e do Amazonas anunciaram nesta segunda (28) ações para beneficiar os migrantes haitianos que ingressaram no Brasil depois do terremoto que devastou o Haiti, em 2010.
Aos menos 1.000 deles devem trabalhar nas industrias da Zona Franca de Manaus.
No dia 16 de março, o Cnig (Conselho Nacional de Imigração), do Ministério do Trabalho, autorizou a permanência por questão humanitária no país de 199 haitianos. Mas ao menos 800 migrantes aguardam a autorização nos Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e São Paulo.
Em fevereiro, o Ministério da Justiça suspendeu a emissão dos protocolos de solicitação de refúgio --documento que os haitianos recebiam ao chegar na fronteira do Brasil--, alegando que detectou uma rota de tráfico humano.
O Conare (Comitê Nacional para os Refugiados) entendeu que o caso dos haitianos não se enquadrava no status de refúgio por se tratar de uma questão humanitária. E repassou a discussão ao Cnig.
Sem os protocolos, 180 haitianos estão barrados em Tabatinga (AM), fronteira com o Peru.
Outros 107 estão irregulares e 33 com autorização provisória em Brasileia (AC), fronteira com a Bolívia.
COOPERAÇÃO
Nesta segunda-feira, o Ministério Público do Trabalho no Amazonas anunciou que firmou um termo de cooperação com a Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), com duração de quatro anos, para empregar nas indústrias ao menos 1.000 haitianos.
"O Brasil demonstra com isso ser solidário à causa dos haitianos", disse o procurador Audaliphal Silva.
O governo do Amazonas criou uma comissão em parceria com a Pastoral do Migrante da Igreja Católica para oportunidade de trabalho na construção civil (que já emprega 47 migrantes) e qualificação profissional.
A UEA (Universidade Estadual do Amazonas) iniciou cursos de informática, português para estrangeiros e qualificação de pedreiro em edificações.
Segundo a Pastoral do Migrante, em Manaus vivem hoje ao menos 400 haitianos. Eles moram em abrigos da igreja. A superintendente da Suframa, Flávia Grosso, sugeriu a inserção de creches para atender a demanda de crianças e filhos dos haitianos.
Em Manaus, já há os primeiros filhos de haitianos nascidos no Brasil. Marie Monique Semexant, 39, e Anoux Valerius, 40, são os pais de Agnaldo, nascido no dia 4 de março.
Moram em uma casa emprestada por um amigo brasileiro no bairro São Jorge, zona oeste da cidade. "Ele é a esperança de uma vida melhor aqui", disse Valerius, que deixou três filhos com a família no Haiti.

Fonte: Folha.com

MINI MAP – DIREITOS HUMANOS E AMBIENTAIS SITUAÇÃO DE PRECARIEDADE DOS MIGRANTES HAITIANOS

Aos 13 dias do mês de abril de 2011, na cidade fronteiriça de Iñapari – Peru, reunidos na Mesa do Mini-MAP Direitos Humanos e Ambientais (membros representantes de instituições, cidadãos civis do Peru, Brasil, Bolívia e Haiti) com o objetivo de escutar, perceber, conhecer e analisar a situação de precariedade em que se encontram os, aproximadamente 100 migrantes haitianos, entre mulheres e homens, instalados na cidade de Iñapari – Região de Madre de Dios, com a intenção de ingressar à República Federal do Brasil em busca de trabalho.
Escutando aos irmãos haitianos, que de maneira textual, manifestaram o que se segue:
Encontramo-nos neste momento na cidade de Iñapari porque nosso país, nos últimos sete anos sofreu o flagelo da natureza com três furacões e um terremoto, deixando-nos um país destruído, com famílias em situação de dor e desesperança; o que nos obrigou a tomar a difícil decisão de migrar para outros países em busca de melhores condições de vida, e assim poder ajudar a nossas famílias no Haiti.
A República Dominicana nos deu a possibilidade de adquirir um visto para sair a outros países de língua hispânica; chegando ao Panamá e ao Equador por via aérea e de Quito a Lima – Cusco e Puerto Maldonado, via ônibus, chegando a Iñapari por taxi, para ingressar ao Brasil. Muitos de nós tivemos comunicação com familiares e amigos que fizeram esta viagem e já se encontram no Brasil, o que nos permitiu organizar o transporte de Quito até Iñapari.
Sentimo-nos envergonhados pela situação que estamos passando, já que somos profissionais e vimos trabalhar para ajudar nossas famílias; temos a esperança de ingressar ao Brasil porque sabemos que é um país grande e com muitas possibilidades de trabalho.
No entanto, queremos e podemos ir para qualquer país que possa nos acolher e nos dar a oportunidade de trabalhar, para assim podermos ter sustento diário e apoio a nossas famílias que se encontram no Haiti esperando muito de nós.
Não entendemos e não temos resposta clara: porque agora o Brasil fechou sua fronteira, se meses antes o ingresso era livre? Lamentamos muito que hoje a Polícia Federal não nos deixe ingressar, se quer até a Ponte da Integração; afugentam-nos como se não fossemos humanos. Imploramos às autoridades
brasileiras que nos deixem ingressar a seu país para trabalhar; permitam-nos a oportunidade de contribuir com seu país e com o nosso também.
Aqui em Iñapari, os peruanos nos estão tratando com generosidade, fazendo-nos sentir em família. Agradecemos o apoio fraterno e solidário da família Flores Cardozo que nos está cedendo sua casa, como também a Paróquia local pelo apoio desinteressado.
Também solicitamos à Comunidade Internacional que socorra e doe toda a ajuda possível ao nosso país, de forma urgente em seu processo de reconstrução, para que nossos compatriotas tenham uma melhor qualidade de vida; sobretudo, garantindo a segurança cidadã.
Os participantes desta reunião perceberam o grito dos irmãos haitianos, que expressaram com lágrimas nos olhos, que neste momento só estão comendo uma vez por dia; e que a família que os estava acolhendo desde o dia em que chegaram, já não tem a possibilidade de continuar a fazê-lo; situação que torna sua estadia nesta cidade cada vez mais difícil. Pelo que, em atenção e, com o mais alto espírito solidário, que deve caracterizar todo ser humano, e recorrendo aos princípios gerais de proteção dos direitos humanos que regem o mundo, expressamos a seguinte opinião pública:
1.- Que as instituições governamentais e privadas, tanto locais, regionais como nacionais dos três países, em observância ao mínimo respeito à dignidade humana que todo ser humano merece, lhes forneçam alimentação diária, por pelo menos duas vezes ao dia e, um lugar para abrigá-los temporariamente até que se resolva sua situação imigratória.
2.- Que o Estado Peruano, dada a situação de precariedade em que se encontram os irmãos haitianos, instalados na cidade fronteiriça de Iñapari, de maneira excepcional possa declarar a todos o status de Refugiados de forma temporária.
3.- Que a República Federal do Brasil considere o ingresso dos migrantes haitianos, já que têm por objetivo principal trabalhar para buscar recursos econômicos para ajudar a seus familiares e, desta forma, contribuir para a reconstrução do afetado país do Haiti.
4.- Que durante sua estadia provisória, os haitianos tenham capacitação na língua do país onde pretendem trabalhar.
Iñapari, 13 de abril de 2011
Na sequência segue a lista dos membros participantes desta reunião convocada pelo Coordenador do Mini-MAP Direitos Humanos e Ambientais, Padre René Salízar Farfán.

NOMES
ENTIDADE/CARGO
PAÍS/CIDADE OU ESTADO
JUAN ALFREDO ANCO GARRIDO
HOSP. SAN MARTIN DE PORRES "ADMINISTRADOR" (e)
PERÚ – IBERIA
NORMA ASPAJO MARIÑO
REGIDORA DE LA MUNICIPALIDAD DISTRITAL DE IBERIA
PERÚ – IBERIA
JESÚS AUGUSTO PRESA PISCO
PRESIDENTE DE LA ASOCIACIÓN SHIRINGUEROS
PERÚ – IBERIA
ESDRAS HÉCTOR
HAITIANO
HAITI
GREBY JOSEPH
HAITIANO
HAITI
TERNE FRITZNE
HAITIANO
HAITI
MAYRA CÁDIZ ARGANDOÑA
"JÓVENES POR LA AMAZONIA" HERENCIA - VOLUNTARIA
BOLIVIA
ADHEMAR RODRIGO ORIAS CORONADO
"JÓVENES POR LA AMAZONIA" HERENCIA - VOLUNTARIA
BOLIVIA
MAHER SALAL VALLEJOS MATENEZ
"JÓVENES POR LA AMAZONIA" HERENCIA - VOLUNTARIA
BOLIVIA
MONDESIR ROSEMOND
HAITIANO
HAITI
JORGE HONORATO PITA BARRA
MUNICIPALIDAD PROVINCIAL DEL TAHUAMANU SUB GERENTE DE MEDIO AMBIENTE
PERÚ – IÑAPARI
ATHANES ALERTE
HAITIANO
HAITI
JOSÉ A. GARCÍA CJUIRO
MAYOR PNP/COMISARIA DE IBERIA
PERÚ- IBERIA
HOLDEN MELITON RUIZ HUESEMBE
MINISTERIO DEL INTERIOR/GOBERNADOR PROVINCIAL
PERÚ-IÑAPARI
L. MERCEDES PERALES YABAR
MUNICIPALIDAD PROVINCIAL DEL TAHUAMANU TTE. GOBERNADORA
PERÚ-IÑAPARI
FRANCISCO ELIEZIO DE SOUZA
CORPO DE BOMBEIRA ACRE BRASIL
BRASIL-ACRE
FOSTER BROWN
CIENTISTA
BRASIL - ACRE
CARLOS PORTELA
MINI-MAP BRASIL
BRASIL-ACRE
P. RENE SALÍZAR F.
COORDINADOR DEL MINI-MAP-DERECHOS HUMANOS
PERÚ-IBERIA
MIGUEL BAUTISTA F.
HERENCIA - BOLIVIA ONG ABOGADO
BOLIVIA
MARCO ESQUECHE H.
MINISTERIO PUBLICO ASISTENTE ADMINISTRADOR
PERÚ- IÑAPARI
MIGUEL ARA SOTELO
MINSA CLAS TRES FRONTERAS
PERÚ- IÑAPARI
RAÚL ARBIOLA BENAVERLA
AUF-PNP-IÑAPARI
PERÚ-IÑAPARI